Derson Lopes Jr
Coordenador Pedagógico da Editora Viver
Recentemente assisti uma entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que me chamou a atenção. Independente de sua orientação política, o fato de ter 86 anos e manter-se em plena atividade, inclusive escrevendo livros, é de se admirar. Ao ser perguntado pelo jornalista pelo “segredo” de sua longevidade acadêmica e intelectual, FHC respondeu: Eu não paro de aprender. “Estou sempre lendo e aprendendo coisas novas e isso me mantém ativo e com a mente saudável” Essa afirmação me fez refletir e lembrar de um artigo escrito por John Coleman na Harvard Business Review.
Coleman comenta em seu texto sobre a biografia de Theodore Roosevelt. Esse ex-presidente americano era um leitor voraz. Dizia-se que ele lia um livro por dia e toda essa bagagem possivelmente o tornou não só carismático, como também excepcionalmente preparado para lidar com vários assuntos em sua carreira presidencial, tais como: empenho na preservação da natureza em nível nacional, expansão marítima, regulamentação do truste, e muitos outros. Coleman chama Roosevelt de um “eterno aprendiz”.
O aprendizado é um dos maiores dons do ser humano. É o aprendizado que nos permite crescer, desenvolver, refletir, abandonar maus hábitos, adquirir bons hábitos, nos relacionar melhor, trabalhar melhor, viver melhor. Nossa vida, para ser relevante, precisa ser marcada pelo eterno aprendizado. Mas como transformar o aprendizado em um hábito consolidado em nossas vidas? Coleman traz algumas dicas em seu texto:
1 – Determine o que deseja alcançar
Desenvolver o hábito de aprender vai exigir que você estabeleça de maneira clara os resultados que deseja alcançar. Você gostaria de revitalizar suas conversas e atividade intelectual por meio da leitura de vários assuntos novos? Está tentando dominar alguma área específica? Gostaria de ter certeza de que está atualizado em um ou dois assuntos fora da sua rotina profissional? Gostaria de se aprofundar mais em algumas áreas, como educação, política internacional e liderança? Escolher um ou dois objetivos vai permitir que você estabeleça metas alcançáveis para ter condições de cultivar o hábito.
2 – Estabeleça o Método
Muitas pessoas estabelecem metas que gostariam de alcançar ao longo do ano (por exemplo ler 24 livros em 2018), mas é preciso também determinar como essa meta será alcançada, por exemplo, determinar hábitos diários ou semanais que precisam ser cultivados (como ler no mínimo 20 minutos por dia, 5 vezes por semana). Metas de longo prazo estão intimamente ligadas a um planejamento. Para hábitos diários ou semanais você pode usar algum aplicativo permita, de forma rápida e simples, inserir a conclusão de suas atividades e, assim, monitorar meu progresso. Eu, por exemplo, utilizo o Evernote. Criei uma série de parâmetros para utiliza-lo como gerenciador de minhas tarefas, agenda semanal e metas. Concentrar tudo em um lugar só vai facilitar o controle e a observação constante de seus objetivos, deixando-os presentes em sua agenda semana. Estas metas, com seu alcance parcial e monitorado, transformam sua vontade de melhorar o aprendizado em um conjunto real de ações práticas e executáveis.
3 – Procure um grupo de estudo
Coleman conta em seu artigo que participa de um clube de leitura que se reúne a cada dois meses e o ajuda a manter suas metas de leitura em dia, além de deixá-las mais divertidas. Em meu caso os estudos do doutorado acabam se tornando um grupo natural de estudo, para discussões de artigos e livros relacionados às areas de pesquisa. Para metas mais específicas, procure se inserir em um grupo focado nos assuntos que deseja aprender — um grupo de discussão sobre política internacional que se reúne mensalmente ou um grupo que faz trabalhos em madeira e se reúne regularmente para trocar informações. Você também pode pensar em uma aula convencional ou um curso de graduação formal para se aprofundar em algum assunto e assumir o comprometimento inerente a ele. Essas comunidades aumentam o comprometimento e tornam o aprendizado mais leve. Não esqueça também do app Meet up, que auxilia a encontrar grupos com interesse em comum.
4 – Livre-se das distrações
Aprender é agradável, mas também exige esforço. Lidar com muitas tarefas simultaneamente e e a tecnologia (celulares, redes sociais, e-mail e etc.) podem tornar muito difícil ou até impossível conseguir a concentração necessária para o aprendizado eficaz. Reserve um período para aprender e evite as interrupções. Quando for ler, procure um lugar silencioso e esqueça o celular. Se você está tendo uma aula ou participando de um grupo de leitura, tome notas que o ajudem a melhorar e reter a compreensão e deixe de lado laptops, dispositivos móveis, e outras tecnologias dispersivas no carro ou na bolsa, fora de seu alcance. Se tem o hábito de fazer as anotações direto em seus gadgets, procure deixá-los em modo avião. Além de eliminar fisicamente as distrações, trabalhe também para treinar a mente para lidar com elas.
5 – Use a tecnologia para complementar o aprendizado
Comentamos um pouco sobre isso no último post, sobre o aprendizado de inglês sozinho, mas vale reforçar. Ao mesmo tempo em que a tecnologia pode ser uma distração, pode ser muito usada para contribuir com o processo de aprendizado. Cursos como os Massive Open Online Courses (MOOCs) permitem que alunos de qualquer lugar se unam em uma comunidade para que possam, juntos, aprender com as mentes mais brilhantes do mundo e uns com os outros. Podcasts, audiolivros, livros digitais e outras ferramentas possibilitam ter um livro em mãos a qualquer hora. Ao usar audiolivros em momentos como dirigindo, correndo ou na academia, você pode praticamente dobrar o número de livros lidos no ano. Bons podcasts ou cursos no iTunes U podem, da mesma maneira, proporcionar o aprendizado em qualquer lugar. É possível que a combinação dessas ferramentas com aplicativos que fazem parte de seus hábitos com a tecnologia seja um aliado essencial na rotina do aprendizado.
Finalmente, Coleman nos ensina que nascemos com uma curiosidade natural; queremos aprender. Não podemos deixar que as exigências da vida profissional e pessoal, ou ainda a preguiça ou excesso de entretenimento, reduzam nosso tempo e a vontade de satisfazer essa curiosidade natural. Desenvolver hábitos específicos de leitura e estudo — conscientemente estabelecidos e cultivados — é nossa grande iniciativa para garantir o crescimento profissional e também uma profunda realização pessoal. Citando Roosevelt ” uma vida inteira dedicada ao aprendizado já é um sucesso por si mesma”
*Adaptado do texto Make Learning a Lifelong Habit de John Coleman, HBR, Jan, 2017.