“A família não nasce pronta. Constrói-se aos poucos e é o melhor laboratório do amor […].” – Luis Fernando Verissimo, escritor, jornalista, humorista e cronista brasileiro.
O educador Ivan Goes é o convidado do blog da Viver para tratar do papel da família na educação. Ele é graduado em Teologia e Pedagogia pela UNASP e fez seu mestrado em Liderança na Andrews University, nos EUA. Além disso, possui vasta experiência educacional desde 1984, período em que atuou na Rede Adventista de Educação (REA) em várias regiões do Brasil e foi Diretor Associado da REA para a América do Sul de 2013 a 2018.
1. O papel da família junto à escola é complementar ou integrativa?
Ivan Goes
A ideia de complemento se dá quando há “falta”, ou seja, falta algo na família que a escola complementa. Não creio que seja uma relação complementaridade, mas sim de integração, até porque a escola não substitui a família; são papéis diferentes que se integram pelo bem do aluno (na escola) ou do filho (dentro de casa)
Para alguns, há essa oportunidade: os pais perceberam que precisam participar mais, e as escolas perceberam que é imprescindível envolver os pais.
2. Por que a cooperação família versus escola é requerida hoje em dia?
Ivan Goes
Os pais são os curadores das atividades em casa. Os dois agentes de maior influência na 1ª infância são exatamente a família e a escola. Isto significa que, se houver cooperação em torno do propósito, essa influência será mais eficaz e produtiva.
3. É possível perder os filhos dentro de casa?
Ivan Goes
Há uma educadora com profundo conhecimento da infância e da adolescência, chamada Heloísa Pires. Ela usa esta expressão: “os filhos que perdemos no quarto”. A concorrência do videogame, dos youtubers, dos influenciadores e o encantamento do mundo virtual tem afetado a casa e a escola. Os filhos “perdidos” nos quartos frequentam a escola, e a tarefa de oferecer outros encantamentos passa a ser da escola. Essa cooperação facilitará trazer de volta à realidade esses alunos/filhos.
4. Existem outros desafios formativos?
Ivan Goes
Antes de mais nada, temos que admitir que não é possível educar sem conflitos. Isso é inevitável. No entanto, é possível educar sem abrir mão do controle, que o cito não como algo manipulador, mas sim como direcionamento. É por isso que os conflitos se apresentam não importando a idade dos filhos/alunos.
5. Por quê?
Ivan Goes
Exatamente porque filhos são imediatistas e nós, pais e professores, pensamos e imaginamos o futuro. “Pais querem paz, filhos querem pais”. Por trás desta frase está o tema da grande questão: qualidade x quantidade.
6. O que se exige no processo educativo?
Ivan Goes
Educar exige tempo, dedicação, investimento, paciência e esforço.
Parece que com o passar dos anos, cada vez temos menos tempo para a família. Creio que isso pode ser diferente se os pais priorizarem determinados retalhos de tempos para os filhos.
7. O que seria “retalhos de tempos”?
Ivan Goes
Você já tentou falar com alguém que precisava de sua atenção e conseguiu durante o dia? O que você fez? Naturalmente, você insistiu até alcançar seu objetivo.
Com os filhos pode ser assim também, insista. Os pais querem paz, filhos querem os pais. A falta de tempo para com os filhos talvez seja por acúmulo de tarefas, mas também pode ser por “prioridades”.
8. É possível alcançar o ideal?
Ivan Goes
O ideal seria tempo + qualidade. Talvez essa não seja a sua realidade ou a possibilidade. Então, experimente 15 minutos de convivência com seu filho. Isso pode fazer a diferença na educação como um todo.
9. O que fazer nesses “15 minutos”?
Ivan Goes
Será que nesses 15 ou meia hora focado no meu filho devo tratar das regras ou dos limites? Isso não o afugentaria? Ao contrário, já que há pouco tempo, aproveite para dirigir o processo educativo. Não é se passando por bonzinho que se constrói um tempo de qualidade com o filho.
10. É possível acreditar numa educação transformadora?
Ivan Goes
Em minha experiência de quase 40 anos como educador, não titubeio em acreditar que toda educação é transformadora. Quando me refiro à educação, o centro de tudo se chama: PROFESSOR.
O professor é um arquiteto cognitivo e um dinamizador da inteligência coletiva; ele (o professor) tem as ferramentas necessárias para uma transformação.
11. Que contribuições tem o professor neste processo?
Ivan Goes
O professor detém duas importantes dimensões: raiz e asa. As raízes são o fundamento, a base. Quanto ao segundo aspecto, é o professor quem cria as asas para o aluno ir mais longe. O poder visionário de futuro, sem dúvida, transforma o professor em um agente de transformação.
12. Quais são as características de uma escola que educa para a vida?
Ivan Goes
Começo pelo amor, acolhimento, alegria, etc., mas quero salientar a autonomia como um aspecto fundamental. Ao longo da convivência no ambiente escolar e familiar, percebo que esse tema é o desafio dos que educam (pais e professores).
13. Por que a autonomia é tão importante?
Ivan Goes
Porque educar para a vida tem muito a ver com o ensinar a tomar decisões, e isso chamo de autonomia. Ensinar a pensar, ensinar a refletir nas ações e nas consequências dessas ações é o que propomos enquanto pais e enquanto escola.
14. Quando começar o ensino da autonomia?
Ivan Goes
A autonomia começa a ser desenvolvida logo na primeira infância, a partir de estímulos e interações com o mundo externo. Ao longo da vida escolar e da fase adulta, elas vão se mostrar essenciais para a vida social, realização de tarefas, tomada de decisão e construção de relacionamentos. Isso é ensinado, isso é a autonomia.
Nosso papel como comunidade escolar é proporcionar aos alunos que não sejam refletores de pensamentos, mas sim autores dos seus próprios pensamentos. Uma escola que se propõe isso é uma escola relevante.
Jael Eneas
Viver Editora
Assessoria de Comunicação